Serviços de Inteligência e (de)colonialidade
Palavras-chave:
serviços de inteligência, decolonialidade, securitismo, gestão socialResumo
Os Serviços de Inteligência (SI), parte integrante do núcleo coercitivo do Estado e, portanto, instituições regidas pelo Direito Público, são responsáveis pela formação, compilação e análise de conhecimentos estratégicos, fundamentais para subsidiar os processos de decisão. A Inteligência Policial no campo da criminologia e as Inteligências de Estado na formulação de políticas públicas são exemplos dessa atividade. O presente artigo teórico, guiado por uma abordagem decolonial, pretende demonstrar os vícios e as marcas que sugerem a colonialidade dos SI brasileiros e quais os caminhos possíveis – e essenciais – para a construção de um modelo decolonial, democrático, ético e atento às exigências materiais dos Direitos Humanos. Para tanto, na primeira seção, caracterizamos os SI a partir de suas classificações mais frequentes; na segunda, realizamos uma introdução à definição de colonialidade e às proposições do decolonialismo como abordagem; na terceira e última, analisamos criticamente elementos centrais da constituição e modos de funcionamento dos SI – securitismo e sua gestão e ética. Diante dessa discussão, posicionamo-nos criticamente frente às importações irrestritas dos modelos de SI do “Norte-Global” pelos países periféricos, e estabelecemos os principais eixos para uma proposta decolonial de SI. Como achados teóricos, identificamos que, para além da subsidiariedade estratégica, o modelo brasileiro atual, securitista, secretista, centralizador e hierárquico, proposto pelas cartilhas norte-americanas e europeias de estrutura e gestão dos SI, estabelece e fortalece práticas políticas e militares de exceção e/ou pouco democráticas, desalinhadas do perfil ético dos Direitos Humanos. Por conclusão, a gestão social e a desconstrução aparecem, por fim, como práticas sugeridas para reversão desse quadro.
Referências
AGÊNCIA BRASILEIRA DE INTELIGÊNCIA. Portaria N° 244-ABIN/GSI/PR, de 23 de agosto de 2016. Aprova os Fundamentos Doutrinários da Doutrina Nacional da Atividade de Inteligência. 2016. Disponível em: https://www.gov.br/abin/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/Col3v5.pdf/view. Acesso em: 1 dez. 2020.
AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES TERRESTRES. Estudo Técnico Preliminar da Contratação: Solução Tecnológica de Inteligência e Gestão da Informação. 2018. Disponível em: http://www.antt.gov.br/backend/galeria/arquivos/2019/12/12/ETP__Inteligencia.pdf. Acesso em: 12 dez. 2019.
AMARAL, Arthur Bernardes do. A Guerra ao Terror e a Tríplice Fronteira na agenda de segurança dos Estados Unidos. 2008. 278 f. Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro (RJ), 2008. Disponível em: https://doi.org/10.17771/PUCRio.acad.13091. Acesso em: 25 ago. 2020.
BRASIL. Lei no 9.883, de 7 de dezembro de 1999. Institui o Sistema Brasileiro de Inteligência, cria a Agência Brasileira de Inteligência - ABIN, e dá outras providências. 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9883.htm. Acesso em: 1 jun. 2020.
CÂNDIDO, Antônio. O estudo analítico do poema. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2006. Disponível em: http://lelivros.love/book/baixar-livro-o-estudo-analitico-do-poema-antonio-candido-em-pdf-epub-e-mobi-ou-ler-online/. Acesso em: 15 maio 2020.
CONGRESSO NACIONAL. Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência. Relatório de Atividades 2015. Brasília: 2015. Disponível em: http://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento/download/801dc07e-afc7-4bbe-942b-84c41c17d471. Acesso em: 18 maio 2020.
FERNANDES, Kamila Bossato. Um guia para a análise crítica multimodal. Galáxia (São Paulo), n. 41, p. 183–186, ago. 2019. DOI 10.1590/1982-25542019240203. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1982-25532019000200183&lng=en&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 14 jan. 2021.
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Porto Alegre, RS: L&PM, 2017.
GILL, Peter. Alguns aspectos da reforma da inteligência na América Latina. Varia Historia, v. 28, n. 47, p. 101–120, jun. 2012. DOI 10.1590/S0104-87752012000100006. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0104-87752012000100006&lng=en&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 28 maio 2020.
GOLDSTEIN, Rebecca Newberger. Incompletude: a demonstração e o paradoxo de Kurt Gödel. 1. ed. Lisboa: Gradiva, 2009.
GONÇALVES, Joanisval Brito. Atividade de inteligência e legislação correlata. Niteroi-RJ: Impetus, 2016.
GONÇALVES, Joanisval Brito. Políticos e espiões: o controle da Atividade de Inteligência. Niteroi-RJ: Impetus, 2018.
GRILL, Igor Gastal. “Ismos”, “ícones” e intérpretes: as lógicas das “etiquetagens” na política de dois estados brasileiros (MA e RS). Revista de Sociologia e Política, v. 20, n. 43, p. 193–220, out. 2012. DOI 10.1590/S0104-44782012000300009. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0104-44782012000300009&lng=en&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 1 dez. 2020.
JONES, Jennifer Morgan. Is Ethical Intelligence a Contradiction in Terms? In: Ethics of Spying: A Reader for the Intelligence Professional. [S. l.: s. n.], 2010. p. 21–31. Disponível em: https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=ICq7gAMV2OUC&oi=fnd&pg=PA21&ots=b8_hE0zDNd&sig=PdCBml_To77jCfDgDc5MrazF0uw&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false. Acesso em: 10 abr. 2020.
MIGNOLO, Walter D. Colonialidade: o lado mais escuro da modernidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, vol. 32, no. 94, p. 1-18, junho, 2017. Disponível: 0102-6909-rbcsoc-3294022017.pdf (scielo.br). em: https://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v32n94/0102-6909-rbcsoc-3294022017.pdf. Acesso em: 18 dez. 2020.
MOREIRA, Vivianne de Castilho. Leibniz & a Linguagem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
OLIVEIRA, Marcel Carrijo de. A confiança como requisito para a gestão de segurança em organizações de Inteligência de Estado. Revista Brasileira de Inteligência, n. 13, p. 61–76, 2018. Disponível em: https://www.gov.br/abin/pt-br/centrais-de-conteudo/revista-brasileira-de-inteligencia/RBI13.pdf. Acesso em: 12 jan. 2021.
PACHECO, Denilson Feitoza. Inteligência, Segurança e Direito: políticas e operações de Inteligência. 2012. 264 f. Relatório de Pesquisa da Residência Pós- Doutoral – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, 2012.
PINHEIRO, Clara Virgínia de Queiroz. Indivíduo e sociedade: um estudo sobre a perspectiva hierárquica de Louis Dumont. Revista Mal Estar e Subjetividade, v. 1, n. 1, p. 94–105, set. 2001. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1518-61482001000100006&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 3 ago. 2020.
QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo (org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires, Argentina: CLACSO, 2005, p. 107–130. Disponível em: http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/clacso/sur-sur/20100624103322/12_Quijano.pdf. Acesso em: 18 dez. 2020.
RESENDE, Viviane de Melo. Decolonizar os estudos críticos do discurso: por perspectivas latino-americanas. In: XII CONGRESSO INTERNACIONAL DA ALED, 18 out. 2017. Universidad Católica - Santiago do Chile: [s. n.], 18 out. 2017. DOI https://doi.org/10.1080/17405904.2020.1754869. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/17405904.2020.1754869. Acesso em: 18 dez. 2020.
RODRIGUES, Thiago. Narcotráfico, militarização e pacificações: novas securitizações no Brasil. In: PASSOS, Rodrigo Duarte Fernandes dos; FUCCILLE, Alexandre (orgs.). Visões do Sul: crise e transformações do sistema internacional. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2016, v. 2, p. 55–87. Disponível em: https://www.academia.edu/29598890/Vis%C3%B5es_do_Sul_Crise_e_Transforma%C3%A7%C3%B5es_do_Sistema_Internacional_Vol_2_South_Views_Crisis_and_International_System_Transformations_Vol_2. Acesso em: 20 jan. 2021.
SANTANA, Leone Henrique Rodrigues. Discursos na construção de inimigos: a guerra às drogas como objeto de intervencionismo e repressão de grupos sociais. CSOnline - Revista Eletrônica de Ciências Sociais, n. 25, 2017. DOI 10.34019/1981-2140.2017.17487. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/csonline/article/view/17487. Acesso em: 18 dez. 2020.
SANTOS, Boaventura de Sousa. A difícil democracia: reinventar as esquerdas. 1. ed. São Paulo, Brasil: Boitempo, 2016.
TENÓRIO, Fernando Guilherme. (Re)Visitando o Conceito de Gestão Social. Desenvolvimento em Questão, v. 3, n. 5, p. 101–124, 2005. DOI 10.21527/2237-6453.2005.5.101-124. Disponível em: https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/desenvolvimentoemquestao/article/view/108. Acesso em: 20 mar. 2020.
UGATE, José Manuel. El ámbito normativo de la inteligencia interior en América Latina. Varia Historia, v. 28, n. 47, p. 121–162, jun. 2012. DOI 10.1590/S0104-87752012000100007. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0104-87752012000100007&lng=en&nrm=iso&tlng=es. Acesso em: 28 maio 2020.
VIANNA, Fernando Ressetti Pinheiro Marques; MENEGHETTI, Francis Kanashiro. Isso é Crowdsourcing ou Crowdsensing? Uma análise da participação humana em plataformas digitais à luz da perspectiva do Capitalismo de Vigilância. REAd. Revista Eletrônica de Administração (Porto Alegre), v. 26, n. 1, p. 176–209, abr. 2020. DOI 10.1590/1413-2311.280.96476. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1413-23112020000100176&lng=en&nrm=iso&tlng=en. Acesso em: 14 jan. 2021.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Revista do Ministério Público Militar
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição 4.0 Internacional.