v. 44 n. 27 (2017): Revista do Ministério Público Militar

Capa: Imagem da Batalha de Azincourt, Escola Inglesa.
Apesar de ter sido feita sobre um pergaminho medieval, ela foi desenhada por volta de 1900. Encontra-se no Victoria and Albert Museum em Londres.
A Batalha de Azincourt ocorreu em 25 de outubro de 1415. Muitas são as versões sobre a desproporção de efetivo em favor dos franceses; mas, em todas elas, as tropas inglesas, cansadas e já enfraquecidas por dias de confrontos, vencem tropas francesas bem mais numerosas, descansadas e contando com os mais poderosos cavaleiros. Se a arte plástica não conseguiu retratar plenamente essa desproporção, esse sentimento do que foi a Batalha, a literatura traduziu plenamente a essência: Wlliam Shakespeare, o grande escritor britânico, aquele que representou melhor todos os sentimentos humanos, serviu de base para a concepção desta capa. Ela se baseia no famoso Discurso do Dia de São Crispim e Crispiniano, da obra Henrique V do Bardo. Esse discurso começa como uma resposta do Rei ao seu primo Westmoreland, que lamentava não ter mais uns 10 mil daqueles ingleses que nada faziam naquele momento, já que as tropas francesas eram 5 vezes mais numerosas, com pleno apoio logístico e descansadas. O Rei Henrique, então, diz, em resumo, que, se estivessem fadaos morrer, já seria perda suficiente para a Inglaterra; mas, se estivessem para vencer, ele não queria dividir a glória com um único homem a mais: propunha até que se desse salvo conduto a quem não desejava combater, pois não desejavam morrer na companhia de quem temia parecer ao seu lado. Os ingleses venceram. Os arqueiros foram importantes, mas não se vence um Exército 5 vezes maior só com flechas. Leônidas, no episódio dos 300 de Esparta, que garantia a Democracia e a cultura ocidental, deixou isso claro - O inimigo tem tantas flechas que cobre o sol: "Melhor, combateremos à sombra!" Essa desproporção terrível, como se diz no início da cena, é semelhante à que vive hoje o Ministério Público atacado por muitos. Alguns até como os desertores que saquearam o próprio acampamento inglês e massacraram pajens. Essa desproporção é a tônica da edição, a razão da obra da capa. Remontando às Cruzada, a regra templária obrigava o Cavaleiro a combater até contra 3 sem recuar. O MP também não pode recuar, não pode deixar o confronto que cada vez mais se acirra, não importa quantos e quão poderosos sejam os inimigos da Sociedade. Precisa defender com destemor a Sociedade, principalmente por meio de sua mais relevante atuação: a penal, mesmo diante de ataques terríveis e incessantes, previsíveis por quem observou a famosa "Mani Pulite": não, eles não iriam deixar barato e continuarão, como já dissemos outras vezes, atacando o Parquet pelos seus ACERTOS. Mas, enfim, esse sempre foi o destino dos bravos, sem fofices, sem moleza, sem descanso; não pode ser outro o destino do Promotor, do Procurador quanto em sua plenitude, na raiz: "voltar com o seu escudo, ou ... sobre ele..." como diziam os gregos. Afinal, o escudo do Espartano, do Mirmidão, do Ateniense protegia o companheiro na falange helênica, e o nosso escudo nos foi dado para proteger a Sociedade. Só os covardes voltam vivos se seu escudo...