v. 46 n. 30 (2019): Revista do Ministério Público Militar

Nossa capa
Prometeu Acorrentado
Rubens - 1611
Óleo sobre Tela. 243x210cm
Museu de Arte (Filadélfia, EUA)
O Barroco se caracterizou pelas diagonais, pelo movimento, pela elipse, pelos sentimentos mais hiperbólicos, pelo contraste dramático entre luz e sombra... Rubens foi um de seus maiores mestres, um gigante da pintura em uma escola de gigantes: a holandesa. É difícil manter qualquer fleuma diante de uma obra do holandês: tomara que os mais fleumáticos vejam nossa capa... O Barroco foi um dos pontos mais altos da cultura ocidental, hoje tão vilipendiada e destruída, que tem na cultura greco-romana uma das pernas de seu tripé: e que temos de preservar cada vez mais por ser a própria essência da nossa identidade. E por que, segundo a religião grega, Prometeu foi acorrentado? Ele ousou se rebelar contra o status quo, contra os poderosos, contra o legado da escuridão deixado aos homens, dando a estes o fogo, que não só lhes traria luz para poderem ver o que se ocultava nas sombras, mas também lhes permitiria um desenvolvimento que é negado a quem dele não pode dispor... Prometeu foi acorrentado, e, todos os dias, vinha um abutre lhe bicar o fígado como tortura eterna: eterna porque diariamente o fígado se regenerava para permitir mais suplício no dia seguinte... O Ministério Público com suas investigações, operações e ações acabou trazendo um pouco de luz à Sociedade. O que sempre esteve obscuro acabou aparecendo. Criaturas que andavam nas sombras foram expostas. Muita coisa aconteceu e o país poderia avançar e se desenvolver de forma mais transparente e eficiente. Itália: berço do Barroco. Berço da Operação Mãos Limpas. Também lá a entrega do fogo aos homens custou caro, muito caro a quem o fez. O establishment reagiu duramente e destruiu e difamou muito das belas conquistas de então. Era mais um aviso do poder aos que ousam ajudar o homem comum. Brasil: junto com muitos dos avanços ocorridos, digamos, “à italiana”, a reação não poderia ser diferente, já era esperada. Era óbvio que, à maneira de Prometeu, buscariam colocar correntes nos integrantes do Ministério Público e nos magistrados e policiais que ousassem “descobrir demais”. Era óbvio que quem corajosamente buscasse ajudar os homens comuns seria submetido a um suplício eterno de ataques diários e impiedosos e que, se não acorrentados, seriam ao menos amordaçados, para que deixassem de prestar testemunho da verdade. Héracles, o mais forte da Grécia, acabou conseguindo o fim do suplício de Prometeu. Que a Sociedade, a mais forte da Democracia, possa salvar os protagonistas da luta contra a improbidade, a corrupção e o crime em geral, como já demonstrou ser capaz em junho de 2013... Que o MP, guardião da Sociedade, possa fazer jus a isso, sendo um gigante na defesa dela e da maior de suas liberdades, aquela que garante que todas as outras existam... Em nosso país, temos essas três indescritíveis coisas preciosas: a liberdade de expressão, a liberdade de consciência e a prudência de nunca praticar nenhuma delas.
Mark Twain